O primeiro grupo de teatro da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta, formou-se em tempos que a nossa memória não alcança. Vem a história por quem a ouviu e que fez com que chegasse até nós. De boca em boca, como acontece com as boas memórias.
A história do primeiro presidente desta casa chega assim. Vem de um tempo antigo, logo no início de tudo. Um tempo em que não se deixavam actas e em que a burocracia era algo que nem se sabia que existia. Fazia-se porque se queria, para deixar aos outros.
Assim se formou a Sociedade que, ao longo dos anos se foi descobrindo no meio das dificuldades. Quem não conhece as dificuldades das colectividades de uma pequena aldeia? E a colectividade teve as suas dores logo no início, as dificuldades dos tempos que se viviam. Foi assim que Vítor de Oliveira Caria decidiu penhorar a propriedade na Fonte da Telha, em caminhos de Pontével, e transformou aquela penhora em instrumentos musicais. História antiga que se repete até aos dias de hoje. Os instrumentos que tanta falta fazem a uma banda filarmónica, são os que mais escasseiam.
Mas Vítor de Oliveira Caria estava determinado a fazer o que fosse possível para deixar as dificuldades para trás. Pelo menos, as que lhe fossem possíveis. Foi assim que, de penhora feita e acompanhado pela filha Maria que andava pelos seis anos, Vítor fez-se à estrada, de carroça. Ida e volta até Lisboa num só dia, com destino marcado na Rua 1º de Dezembro onde se instalava a Santos Beirão, Lda. De lá, fez-se ao caminho de volta com os contrabaixos na carroça. Foi-se a penhora, ouviu-se a música. O seu filho, António Vítor, iria tocar um desses contrabaixos nos anos seguintes dando continuidade à memória do pai que faleceu demasiado cedo, aos cinquenta e cinco anos.
É assim que a memória perdura. De boca em boca. A construir, aos poucos, uma casa que fica para todos e que é mais do que os tijolos que se erguem. É a alma que a habita.